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NA HORA H

Chegou a hora do exame, e agora? Para a maioria das pessoas o nervosismo é a principal barreira na hora de fazer um exame de aptidã...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

PERDÃO FILHO

 
 
P E R D Ã O F I L H O:
Pais e mais pais orgulham-se de ter dado a vida a um filho.

Maria e eu também.
De você Marcelo, recebemos só alegria.
Quando você nem a caminho estava, já ficávamos satisfeitos antevendo o dia em que tivéssemos certeza que você estava a caminho.
Quase choramos de alegria quando Maria me informou: o meu ciclo menstrual está atrasado.
Era você a caminho; nove meses depois você chegou, feioso nos primeiros dias de nascido, tornando-se aos poucos a própria encarnação de um anjo.
Marcelo: só alegria!
Os primeiros banhos, Maria um tanto sem jeito, eu ajudando.
Aquele sorrizinho de anjo, as visitas do pediatra. Marcelo, só alegria.
Os primeiros brinquedos, os primeiros passos, as primeiras palavras; enroladas é verdade mas Marcelo: só alegria.
Foi no dia do seu 2° aniversário que “aquilo” aconteceu:
Logo cedo, felizes, Maria, você e eu a caminho da casa da vovó para a festinha do seu 2° aniversário.
Maria dirigia: eu com você no colo sentava-me ao lado dela.
Nos meus braços (“O lugar mais seguro para um filho”) você está feliz também; tagarelava, tudo via e tudo ouvia.
Marcelo: só felicidade!
De repente, aquele veículo que saia de uma estrada de terra, cortou-nos a frente, Maria para não bater saiu fora da pista e foi colidir com o barranco.
Maria atirada contra o volante, eu, contra o painel; e você Marcelo, no meu colo.
Eu ainda tentei me firmar para não machucá-lo, mas a força do impacto foi forte demais e fui jogado contra o painel, você Marcelo estava entre eu e o painel.
Lembro-me como se estivesse acontecendo agora: seu corpo de anjo sendo esmagado pelo meu e ao mesmo tempo me salvando a vida.
Lembro do quase ruído que seu corpinho emitiu ao ser esmagado pelo meu corpo contra o painel. Marcelo: só tristeza!
Você morreu Marcelo; sua mãe e eu fomos hospitalizados em estado grave e um mês depois saímos do hospital.
Marcelo: só tristeza!
O sentimento de culpa me persegue sempre; nosso casamento acabou, a perseguição continua.
Marcelo: só tristeza!
Hoje você estaria fazendo 5 anos, sinto como se você não tivesse partido; depois a realidade...
Marcelo: só tristeza.
Do fundo do negro poço em que estou há 3 anos parei para refletir e tomei a iniciativa de escrever esta cartinha; que eu não sei se terei coragem para mostrar a alguém. E me pergunto: porque, Marcelo, só tristeza?
Assistindo um filme na SIPAT da firma em que trabalho sobre o uso do cinto de segurança, encontrei a resposta.
Eu e Maria nunca usávamos cinto de segurança!
O mesmo cinto que já veio no carro quando o tiramos novo da concessionária!
O mesmo cinto que todos dizem ser CARETICE usar.
O mesmo cinto que poderia ter salvo a sua vida; pois a minha você salvou!
De uma só coisa tenho certeza: se Maria e eu tivéssemos com cinto de segurança, você, Marcelo, que hoje é só tristeza, ainda seria o Marcelo, só alegria.
Marcelo, Marcelo, Marcelo; sua vida por um cinto!
Você poderia estar na cadeirinha, no banco de trás, Marcelo.
O papai poderia estar usando cinto de segurança. Marcelo, hoje seria só alegria!
Vou parar de escrever para não enlouquecer; finalizo:
Pelo amor de Deus; me perdoe, filho.
Pelo amor de Deus; me perdoe, Maria.
PELO AMOR DE DEUS USEM TODOS O CINTO DE SEGURANÇA; COLOQUEM AS CRIANÇAS NO BANCO TRASEIRO.
Um Pai...